Descolonização Afro-Asiática

Após a Segunda Guerra Mundial, com o enfraquecimento econômico dos países europeus, as colônias africanas e asiáticas desencadearam um processo de libertação, conhecido como Descolonização Afro-Asiática. Este processo foi bastante heterogêneo e durou cerca de três décadas (1945-1975), sendo que a maioria das colônias ficou independente na década de 1960. O movimento foi apoiado tanto pelos Estados Unidos quanto pela União Soviética que, no contexto da Guerra Fria, visavam atrair os novos países para suas respectivas áreas de influência. Muitos líderes do processo, como Agostinho Neto, por exemplo, pregavam o pan-africanismo, ou seja, a união dos negros de todo o mundo pela libertação das colônias africanas. 

ÁFRICA 

ARGÉLIA

A Guerra da Argélia (1952-1962) foi violentíssima, inclusive com a utilização de atentados terroristas por parte da FNLA (Frente Nacional de Libertação da Argélia) e custou a vida de meio milhão de argelinos, mas a França acabou reconhecendo a independência, surgindo a República Democrática da Argélia, cujo primeiro presidente foi Ahmed Ben Bella. Até hoje o país vive conflitos entre o exército e os extremistas islâmicos da Frente Islâmica de Salvação (FIS) e do Grupo Islâmico Armado (GIA).

CONGO BELGA

Libertou-se da Bélgica em 1960, sob a liderança de Patrice Lumumba, que foi morto pelos rebeldes da Província de Katanga em 1961. Em 1965 Joseph Mobutu (Mobutu Sese Seko) implantou uma ditadura que mudou o nome do país para Zaire. Em 1997 Mobuto foi deposto e substituído por Laurent Kabila que mudou o nome do país para República Democrática do Congo (RDC), enfrentou a Guerra Mundial Africana e foi assassinado em 2001 e substituído por seu filho Joseph Kabila.

AS COLÔNIAS PORTUGUESAS

Portugal, que vivia sob a ditadura salazarista, foi um dos maiores repressores aos movimentos de libertação, usando inclusive gás venenoso contra os rebeldes. Somente com a Revolução dos Cravos Vermelhos (1974), que derrubou a ditadura e implantou a democracia, é que as colônias se tornaram independentes. Vejamos os casos de Angola e Moçambique.

ANGOLA

Em 1956, o Movimento Popular pela Libertação de Angola (MPLA), de tendência socialista, liderado por Agostinho Neto iniciou a guerra pela independência. Em 1975, Portugal aceitou a independência do país, mas conflitos ideológicos e tribais desencadearam a Guerra Civil Angolana (1975-1992) entre o Governo (MPLA), apoiado pela URSS e Cuba, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), dirigida por Holden Roberto e apoiada pelo Zaire, e a União pela Independência Total de Angola (UNITA), liderada por Jonas Savimbi e apoiada pelos Estados Unidos e pela África do Sul. Em 1992 houve eleições livres que foram vencidas por José Eduardo dos Santos do MPLA, que depois de 37 anos no poder, informou em dez de 2016 que não será candidato nas próximas eleições. Angola tem uma razoável produção agrícola, porém sua economia se baseia em exploração mineral (ouro, diamantes e petróleo), entretanto, o grande problema é que o governo é rico e o povo é miserável.

MOÇAMBIQUE

Em 1962 a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), liderada por Eduardo Mondlane e Samora Machel, iniciou a luta pela independência, a qual só foi obtida em 1975, tendo Samora Machel como primeiro presidente de Moçambique. Conflitos ideológicos e tribais provocaram a Guerra Civil Moçambicana (1975-1994) entre o Governo (FRELIMO), apoiado pela URSS e Cuba, e a Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), liderada por Afonso Dhlakama e apoiada pela África do Sul e Estados Unidos. Em 1994 houve eleições livres que foram vencidas por Joaquim Chissano, da FRELIMO.

NIGÉRIA

A Nigéria ficou independente da Inglaterra através de um acordo em 1960, tendo como primeiro presidente Nnamdi Azikiwe. A Nigéria é um país multiétnico e culturalmente diverso. A Nigéria tem uma estimativa de mais de 250 grupos étnicos, mas as três principais etnias são Hausá, Igbo e Iorubá. Quase todas as raças nativas na África são representadas na Nigéria, o que explica conseqüentemente as grandes diversidades do seu povo e da sua cultura. Foram identificados mais de 374 idiomas na Nigéria. Entre 1967 e 1970 ocorreu a Guerra de Biafra, provocada por conflitos separatistas e tribais entre os Ibos e Hausás e também pelo controle da produção de petróleo. O general Phillipe Effiong chegou a criar a República de Biafra, mas acabou derrotado. Atualmente o país enfrenta a violência de terroristas muçulmanos radicais que formam um grupo conhecido como Boko Haram.

ÁFRICA DO SUL

Em 1910, através de um acordo surgiu um protetorado do Império Britânico chamado União Sul-Africana, que se transformou em República da África do Sul em 1961. Em 1948, inspirado nas leis raciais de Nuremberg, foi criada a Lei do Apartheid, que segregava completamente a população amarela e, principalmente, negra. Foram criados guetos como o de Soweto e os massacres eram comuns, como o Massacre de Shaperville. Os negros criaram o Congresso Nacional Africano, liderado por Nelson Mandela, para lutar contra o governo da minoria branca. Mandela foi condenado a prisão perpétua, mas a luta continuou através do Arcebispo Desmond Tutu, entre outros. Depois de 27 anos na prisão, Mandela foi libertado e negociou o fim do Apartheid com presidente Frederick Declerk (ambos ganharam o Prêmio Nobel da Paz). Em 1994, Nelson Mandela se tornou o primeiro negro a governar a África do Sul. Depois Thabo Mbeki foi presidente por dois mandatos e foi sucedido por Jacob Zuma, que está envolvido em escândalos sexuais e de corrupção.

OBS. 1. Os principais problemas que atingem o Continente Africano são as guerras tribais (como os massacres entre hutus e tutis em Ruanda), a fome, a corrupção dos governantes (existem muitos ditadores, como Robert Mugabe, que governa o Zimbábue há trinta anos, e Omar Al Bashir, ditador do Sudão e responsável pelo massacre de Darfur) e as doenças, como a malária e a AIDS.

         2. No Sudão ocorreu um plebiscito em 2011, organizado pela ONU, originando um novo país chamado Sudão do Sul.

         3.  Teve início no final de 2010 na Tunísia a chamada "primavera árabe", com a queda do ditador Ben Ali. No Egito, no início de 2011 as manifestações na Praça Tahir levaram o exército a depor o ditador Housni Mubarak. Na Líbia, os rebeldes, seguindo o exemplo do Egito, depuseram e executaram o ditador Muamar Kadafi.

  ÁSIA 

ÍNDIA

A Luta contra o domínio britânico na Índia foi iniciada pelo Partido do Congresso (1885), liderado pelo Mahatma Gandhi e por Jawaharlal Nehru e pela Liga Muçulmana (1906), liderada por Mohamed Al Jinah. Gandhi desencadeou a Campanha de Não-Violência (greves, boicotes, marchas) contra a Inglaterra e culminou com a independência da Índia em 1948, porém a região se dividiu em quatro países: União Indiana (maioria bramanista), Paquistão (maioria muçulmana), Sri Lanka (maioria budista) e, posteriormente, Bangladesh (separou-se do Paquistão). Gandhi foi covardemente assassinado por um fanático hindu chamado Nathuram Godse em 1948. Nehru foi Primeiro-Ministro da Índia até sua morte em 1964. Sua filha, Indira Gandhi, ocupou o mesmo cargo por duas vezes (de 1969 a 1977 e de 1979 até ser assassinada em 1984) e foi sucedida por seu filho, Rajiv Gandhi (1984-1989), que também foi assassinado em 1991. Até hoje há conflitos entre Índia e Paquistão, principalmente, por causa da disputa pela Província da Caxemira.

COREIA

Durante a Segunda Guerra Mundial, para combater os japoneses, a Península da Coréia foi invadida pelos aliados (EUA, no Sul; e URSS, no Norte). Após a derrota japonesa o país acabou dividido com base no paralelo 38 Norte, formando a República da Coréia (SUL) e a República Popular Democrática da Coreia (NORTE). Em 1950, as tropas norte-coreanas, apoiadas pela URSS e pela China, invadiram o Sul, provocando a Guerra da Coréia, que só terminou com o Armistício de Pan Munjon (1953). A divisão se mantém até hoje, sendo que a Coreia do Sul é capitalista e democrática, enquanto a Coreia do Norte, é uma ditadura socialista (primeiro com Kim il-Sung, que governou até sua morte em 1994, e depois com seu filho, Kim Jong-il, que governa desde então). A região é um foco permanente de tensão, principalmente, pela ação da ditadura norte-coreana.

VIETNÃ

A região conhecida como Indochina era colônia francesa desde o século XIX e durante a Segunda Guerra Mundial foi ocupada por tropas japonesas, provocando uma forte resistência local. Após a expulsão dos japoneses e o retorno dos franceses, iniciou-se um movimento pela independência liderado por Ho Chi Minh, provocando a Guerra da Indochina (1946-1954), que culminou com o surgimento de três países: Laos, Camboja e Vietnã, sendo que este último, foi dividido em dois, tendo como base o paralelo 17 N (Norte, socialista, apoiado pela URSS e pela China; e Sul, capitalista e apoiado pelos Estados Unidos) pela Conferência de Genebra (1954), que estabeleceu também que deveria haver uma eleição para unificar o país. Em vez disso, ocorreu a chamada Guerra do Vietnã (1959-1975), com a URSS e a China apoiando o Vietnã do Norte e os vietkongs (guerrilheiros socialistas dentro do Vietnã do Sul) e com os Estados Unidos apoiando o Vietnã do Sul. Entre 1959 e 1964, o conflito restringiu-se apenas ao Vietnã do Norte e do Sul, embora Estados Unidos e também a União Soviética prestassem apoio indireto. Em 1961, os Estados Unidos resolveram entrar diretamente no conflito, enviando soldados e armamentos de guerra. Os soldados norte-americanos sofreram num território marcado por florestas tropicais fechadas e grande quantidade de chuvas. Os vietkongs utilizaram táticas de guerrilha, enquanto os norte-americanos empenharam-se no uso de armamentos modernos, helicópteros e até armas químicas, como a Bomba Napalm. No final da década de 1960, era claro o fracasso da intervenção norte-americana. Mesmo com tecnologia avançada, não conseguiam vencer a experiência dos vietkongs. No começo da década de 1970, os protestos contra a guerra aconteciam em grande quantidade nos Estados Unidos. Jovens, grupos pacifistas e a população em geral iam para as ruas pedir a saída dos Estados Unidos do conflito e o retorno imediato das tropas. Neste momento, já eram milhares os soldados norte-americanos mortos no conflito. A televisão mostrava as cenas violentas e cruéis da guerra. Sem apoio popular e com derrotas seguidas, o governo norte-americano aceita o Acordo de Paris, que previa o cessar-fogo, em 1973. Em 1975, ocorre a retirada total das tropas norte-americanas. É a vitória do Vietnã do Norte. O conflito deixou mais de um milhão de mortos (civis e militares) e o dobro de mutilados e feridos. A guerra arrasou campos agrícolas, destruiu casas e provocou prejuízos econômicos gravíssimos no Vietnã. O Vietnã foi reunificado em 2 de julho de 1976 sob o regime comunista, aliado da União Soviética.  Atualmente, seguindo o exemplo de sua grande aliada, a China, o governo do Vietnã mantém a ditadura socialista, mas fez a abertura econômica, tendo os Estados Unidos como um de seus principais parceiros comerciais.

JAPÃO

Após os ataques atômicos e a rendição do Japão, o país foi ocupado por tropas americanas, que impuseram um modelo constitucional imitando a Constituição dos Estados Unidos, proibindo, inclusive, a fabricação de armas e o envio de tropas para o exterior. Perdedor do conflito militar, o Japão tornou-se um vencedor na corrida tecnológica, industrial e comercial.

TIMOR LESTE

Era uma colônia portuguesa e, sob a liderança de Nicolau Lobato e Xanana Gusmão, obteve sua independência em 1975, porém foi invadido pelas tropas da Indonésia, que dominaram o país por 24 anos, proibindo a língua portuguesa e perseguindo violentamente o catolicismo. A guerrilha timorense não se rendeu, embora com escassos recursos materiais, humanos e financeiros e apesar de ter sofrido dramticamente, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, pela morte em combate de Nicolau Lobato ou por detenção de Xanana Gusmão. Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados do mundo, conseguiu, nos tempos mais recentes, alargar a sua luta ao meio urbano com manifestações de massas e manter no exterior uma permanente luta diplomática, para o que contou, em muitas circunstâncias, com a compreensão e o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli e ganhador do Prêmio Nobel em 1996. Em 30 de Agosto de 1999, em um referendo promovido pelas Nações Unidas, os timorenses votaram pela independência, com esmagadora maioria. Milícias indonésias mataram um grande número de civis e praticmante destruíram Dili, a capital. Tropas da ONU ocuparam a região e passaram a administrá-la. Apenas em 20 de Maio de 2002 a independência de Timor-Leste foi restaurada e as Nações Unidas entregaram o poder ao primeiro Governo Constitucional de Timor-Leste, liderado por Xanana Gusmão. 

CONFERÊNCIA DE BANDUNG 

Em 1955, ocorreu a Conferência de Bandung (Indonésia), da qual participaram apenas países independentes e colônias que lutavam pela independência na África e na Ásia, originando o Bloco de Países Não-Alinhados, que defendiam idéias de não se alinhar nem com os Estados Unidos e nem com a URSS. Além disso, condenaram o colonialismo e o racismo e fizeram duras críticas à corrida armamentista. Mais tarde, com a participação dos países da América Latina, passou a ser conhecido como Bloco do Terceiro Mundo.